Fui entrevistada para o jornal O FLUMINENSE. Quem quiser conferir:
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Crianças e jovens lançam livros no mercado independente
Uma ideia na cabeça, algumas horas no computador e uma história como resultado. O processo se repete e surgem novos textos. Desta forma, cresce a vontade de transformá-los em um livro e começa uma verdadeira peregrinação em busca de uma editora que acredite no projeto. O caminho é longo e difícil. Ansiosos por ver sua obra nas prateleiras das livrarias, muitos autores preferem publicar de forma independente.
O problema desta forma de publicação é que todo o trabalho de divulgação e de venda é de responsabilidade dos próprios autores. A editora finaliza e garante que um exemplar seja enviado para a Biblioteca Nacional, que tem registrado tudo o que é publicado no Brasil.
E como cabeça de criança é um campo fértil de ideias, muitas delas podem virar histórias e, consequentemente, livros, ainda mais quando ela demonstra interesse pela literatura desde cedo. É o caso da pequena escritora Manuella de Rezende, de 10 anos, que sempre gostou de folhear livros.
Quando começou a ler, ao seis anos, escreveu várias historinhas. Tudo não passava de uma brincadeira, mas quando ela mostrou o trabalho para o avô, ele percebeu que poderia virar um livro. A família então se uniu e se esforçou para transformar o sonho em realidade. Buscou apoio de várias editoras durante três anos, mas o argumento das empresas é que a obra não tinha perfil comercial. Decidiram publicar de forma independente pela Editora Matrix e o livro “Histórias e Pensamentos da Manuella”, lançado em julho, teve tiragem de mil exemplares.
“A maioria das histórias é ficção, poucas são reais. Penso em uma aventura e me imagino como protagonista. Gosto de escrever quando tenho vontade. O massacre de Realengo fez com que eu escrevesse uma história sobre bullying”, conta Manuella, que participou recentemente do tradicional Corujão da Poesia, em São Francisco.
O jornalista Renan Barreto, 23, sempre gostou da cultura oriental. Jogos de RPG e mangás fazem parte do universo do jovem, que também se inspira na literatura russa e nas lembranças da infância para escrever.
O resultado é que o jovem escritor já tem cinco livros ainda não publicados. A estreia na carreira literária aconteceu só em 2010, quando lançou o livro de contos “O Menino do Balão”.
Este ano lançou “Labirintho”, um romance que conta com uma dose de suspense, ambos publicados de forma independente pela Editora Multifoco. Apesar de tantos escritos, Renan fez o caminho inverso.
“Eu quis começar em uma editora pequena para ter um portfólio. Isso facilita o contato com as maiores. Até porque, atualmente, o nome do autor tem mais peso do que o nome do livro. Então, achei mais fácil começar desta maneira. Entretanto, é mais complicado. Nós somos responsáveis por todas as outras etapas”, explica.
Por mais difícil que seja despertar a atenção de uma editora, há quem consiga chegar lá. Um exemplo é a jornalista paulista Carolina Munhóz, 23, que começou a escrever aos 12 anos inspirada na saga de Harry Potter. Aos 16 anos, ela escreveu sua própria história e enviou para várias editoras.
Cansada de esperar, pagou a metade do valor necessário para publicar por uma editora de Campinas. A outra parte foi patrocinada pela própria empresa. Carolina foi quem fez sua assessoria e no ano passado participou da Bienal de São Paulo com a editora Arte Escrita.
Esse ano participou também da Bienal do Rio pela editora Novo Século, que relançou o livro “A Fada”, que conta a história de uma inglesa que, ao completar 18 anos, ganha presentes inusitados e descobre que não é humana.
“Eu fiz minha própria assessoria. Recolhia todas as notícias que saíam sobre o livro e acho que isso foi o meu diferencial. Consegui mostrar que o livro estava tendo uma repercussão bacana. Atualmente, tenho o apoio de uma grande editora. É ótimo porque não tenho mais que fazer tudo sozinha. Tenho uma equipe me dando apoio em todas as etapas”, conta Carolina, que foi eleita este ano a melhor escritora jovem pelo Prêmio Jovem Brasileiro.
Alternativa para quem não consegue furar o mercado editorial
Quem quer começar uma carreira literária, mas não tem dinheiro para publicar de forma independente, pode contar com a ajuda do site Clube de Autores. No endereço virtual, é possível escolher o tipo de capa, de papel, como será a impressão do livro e quanto o autor quer receber de direitos autorais. Eles são depositados em conta bancária quando atingem o mínimo de R$ 100. Há a possibilidade de a obra ser vendida em e-book, o que a torna muito mais barata.
O diretor-geral do Clube de Autores, Ricardo Almeida, de 34 anos, conta que a ideia da plataforma surgiu da própria experiência dos sócios, que são autores e enfrentaram os desafios do mercado editorial.
Atualmente, existem duas formas de publicação, o patrocínio da editora ou pagar, um custo que varia de R$ 2 mil a R$ 20 mil. O site, em funcionamento desde 2009, procura ser uma nova alternativa.
“O Brasil publica aproximadamente 50 mil livros por ano. Nós já publicamos mais de 12 mil. Isso representa quase 10% das publicações brasileiras. O mais interessante é que não há nenhum tipo de mediação, é o público quem decide o que é bom ou não. Publicamos os mais variados assuntos, não há restrições”, explica Ricardo, que publicou seu primeiro livro, “Mirando Resultados”, em 2001, pela editora Nova Tec. O segundo livro, “Medindo Resultados”, foi publicado em 2010, já pelo Clube de Autores.
O FLUMINENSE