Resenha de O Inverno das Fadas pelo blog Meu Outro Lado:
http://mon-autre.blogspot.com.br/2013/05/resenha-o-inverno-das-fadas.html?showComment=1369350921133
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Quando minha amiga Mayara chegou com este livro nas mãos, de cheiro delicioso (porque, sim – todos nós sabemos –, isso é tão viciante que poderia ser considerado narcótico) e de tão belamente misteriosa capa, me encantei de cara. Precisei – como todo bom bibliófilo – pegar. Pegar, sentir, abrir, passar o olho pelos parágrafos enquanto, impressionado, absorvia a realidade daquilo: um livro sobre uma fada. Eu estava prestes a ter meu primeiro contato com as obras sobre estas incríveis personagens nórdicas, pelas quais muito em breve após aquele momento eu me apaixonaria (ao ponto de ser chamado na faculdade de coisas como “fada” e “o rei das fadas”) e as considerariam os mais belos seres fantásticos existentes.
Mas mal eu sabia que também me encantaria pelo quão fada a escritora parece (e, como viria a descobrir, é) e – sim – que tal obra não é nem britânica, nem italiana, nem americana, nem francesa, como costumamos atribuir a bons feitos literários.
É brasileira.
O Inverno das Fadas, da paulista Carolina Munhóz (que venceu como melhor escritora jovem no Prêmio Jovem Brasileiro 2011), é um livro que, respeitando uma hierarquia pessoal básica, seria por mim categorizado como bom. A história gira em torno da jovem fada Sophia Coldheart, a qual, exaurida de sua sina de Leanan Sidhe –uma espécie de fada que seduz e inspira grandes e talentosos seres humanos em troca de força vital e sanidade –, luta contra a própria natureza, o tempo e a lógica para, ao lado de William, um jovem escritor que de sua mais recente e excitante vítima tornou-se seu maior e mais puro amor, viver. Viver um amor não-natural e tão impossível que pode ser fatal.
É um livro sensato: de uma escrita acessível e coesa; não possui muito rebuscamento ou encheção sinonímica e/ou mirabolante de linguiça. É claro e objetivo quando quer ser; é criativo, misterioso e surpreendente quando precisa ser. É dono de uma dinâmica leve e relaxante, às vezes até mesmo descompromissada – sem nunca se perder do foco principal do enredo, é claro –, com um ritmo bom, divertido e extremamente sensual (palavra que, aliás, aparece impregnada metaforicamente em quase todas as páginas onde a “fada musa” aparece). Além disso, é um livro corajoso (os que não curtem ou não aceitam homoafetividades que tenham cuidado), com interessantes releituras de realidades e, é claro, um ótimo toque adocicado (e muitas vezes bem apimentado) de romance. Um romance bonito e emocionante, onde há algo que, pessoalmente, como resenhista e escrevedor, considero brilhante: o gradativo crescimento dos protagonistas como casal no decorrer do enredo, ainda que no meio de uma realidade conflituosa e de suspense.
Algo que também me encantou é que a história, finalmente, aborda uma criatura mágica que é pouco ainda vista em livros de sucesso: as fadas – as quais, nesta obra (o que a torna ainda mais interessante) diferenciam-se grandemente da imagem popularizada e Tinker Belliana que temos. Traduzindo: as fadas de O Inverno das Fadas definitivamente não são milimétricas, nem soltam purpurina dourada (sem desmerecer aqui o Disney Fadas, por favor). As fadas de Carolina são as fadas folclóricas, mais precisamente as misteriosas fadas irlandesas, o que nos permite, além de conhecer uma inovadora e apaixonante história, também conhecer, ainda que só um pouco, da encantadora mitologia celta.
Apesar de ter um enredo que possibilitaria muito mais criação se fosse mais explorado do que foi, O Inverno das Fadas conseguiu ser mais do que satisfatório. Um ótimo livro de uma promissora escritora – uma mágica opção para encantar e abrir os horizontes de ficção daqueles apaixonados por fantasia (e, é claro, por uma linda história de amor “impossível”).